segunda-feira, 4 de abril de 2016

SOCIOLOGIA: RACISMO À BRASILEIRA

COLÉGIO IBITURUNA
2° ANO - Turmas A, B e C (Ensino Médio)

SOCIOLOGIA


RACISMO À BRASILEIRA


Nos anos 30 (ou mesmo 60), quando sociólogos americanos vinham ao Brasil para estudar nossas “relações raciais”, procuravam descobrir antídotos para a ideologia da white supremacy que impregnava os EUA. Nenhum americano medianamente informado acredita que somos um bom exemplo de relações raciais. Nós mesmos já não nos sentimos tão confortáveis no papel de “mocinhos”. 

(...) O livro que France Twine, uma jovem antropóloga norte-americana negra, acaba de lançar ficará talvez como marca dessa nova scholarship americana sobre o racismo no Brasil. O volume é produto de um ano de residência da autora, então estudante, numa pequena cidade do interior fluminense, antiga área de produção de café sob regime escravocrata. 

(...) A grandeza deste livro está no fato de a autora ter descido mais abaixo das ondulações da superfície racista e do orgulho autodefensivo dos negros para perceber a dor e o sofrimento dos discriminados e a hipocrisia dos que discriminam. Twine investiga o que os brasileiros chamam de racismo. Basicamente, em Versália (nome fictício da cidade do interior fluminense), o povo considera racismo o ato de exclusão de negros em eventos sociais ou associações maritais ou lúdicas, não atribuindo ao racismo as visíveis desigualdades econômicas, sociais e de poder político. 

Analisa ainda como este privilégio dos brancos é encoberto por uma ideologia que dissocia as desigualdades existentes na sociedade da discriminação racial cotidiana: aqui, Twine indica os discursos que negam ou recusam o racismo: o discurso da pobreza como responsável pela discriminação; o discurso da mestiçagem como característica do povo brasileiro; o discurso da supremacia demográfica dos brancos ou não negros; o discurso da inferioridade cultural dos africanos e seus descendentes; e o discurso do distanciamento temporal (o racismo pertence ao passado) ou espacial (o racismo existe apenas nos grotões ou nas grandes cidades). 

(Antônio Sérgio Guimarães, sociólogo – Professor do Departamento de Sociologia da USP. Fonte: Folha de São Paulo).