quinta-feira, 18 de setembro de 2014

SOCIOLOGIA: CLÁSSICOS - MAX WEBER

1° Ano: Turmas A, B e C (Ensino Médio)
3° Ano: Turmas A e B. (Ensino Médio)
COLÉGIO IBITURUNA

CLÁSSICOS: A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER  

As transformações sociais e econômicas do século XVII e XVIII vivenciadas em todo o continente europeu influenciaram as preocupações intelectuais de Max Weber. A Alemanha teve o desenvolvimento capitalista e intelectual diferente do restante da Europa, enquanto França e Itália vivenciavam as revoluções burguesas republicanas e industriais a Alemanha permanecia monárquica e agrária. 

As sociedades modernas eram formadas a partir de uma profunda diversidade social, o restante do continente europeu em suas teorias políticas, econômicas e sociais buscava a universalidade através dos nacionalismos, do positivismo em relação ao progresso técnico e científico proporcionado pelo sistema capitalista industrial. Já os alemães apresentavam um amplo interesse pela História particular de cada povo e pela diversidade. O pensamento alemão pode ser sintetizado na associação entre História, esforço interpretativo e facilidade em discernir diversidades. 

Os Idealistas (Historicistas), corrente filosófica de Max Weber, defendem a pesquisa histórica, baseada na coleta de documentos e no esforço interpretativo das fontes. As diferenças sociais em cada território ou de uma nação para outra, apresentam-se como de gênese (origem) e formação, portanto de História, não de estágios de evolução. A perspectiva respeita o caráter particular e específico de cada formação social e histórica. 

Max Weber combina a perspectiva histórica de respeito às particularidades e à Sociologia que ressalta os elementos mais gerais de cada fase do processo. Para ele, a sucessão de fatos não faz sentido por si só, os dados são esparsos e fragmentados. Propõe então o Método Compreensivo que é o esforço interpretativo do passado e sua repercussão no momento presente. Assim, o conhecimento histórico é formado a partir da busca de evidências, onde o método permite ao cientista dar sentido social e histórico aos fatos separados, desfragmentados.   

AÇÃO SOCIAL: UMA AÇÃO COM SENTIDO: Por Ação Social entende-se a conduta humana (ato, omissão, permissão) dotada de sentido, ou seja, de uma justificativa elaborada subjetivamente, isto é, um significado subjetivo dado de forma racional ou irracional por quem o executa, o qual orienta seu próprio comportamento, tendo em vista a ação – passada, presente ou futura – de outro ou outros. 

O indivíduo é o agente social que dá sentido à sua ação, o sentido é compreendido através da análise do MOTIVO que leva a pessoa à ação, mas seus efeitos muitas vezes escapam ao controle e previsão do agente. É pelo motivo que se desvenda o sentido da ação e a motivação é formulada expressamente pelo agente ou está implícito em sua conduta.  
O motivo da ação pode ser de três tipos: 
I - Dado pela tradição 
II - Dado por interesses racionais 
III - Dado pela emotividade  

Então, tem sentido social toda ação que leva em conta a resposta ou a reação de outros indivíduos e é a interdependência entre os sentidos das diversas ações que dá o caráter social da ação. A tarefa do cientista é descobrir os possíveis sentidos das ações em todas as suas consequências.  
Ex.: Enviar uma carta – ato composto de uma série de ações sociais com sentido 
1 - Escrever, selar, enviar e receber – ações com uma finalidade objetiva;  
2 - Atores, agentes se relacionam nessa ação com orientação de motivos diversos: enviar a carta, ser o atendente no posto dos correios, o carteiro, o destinatário.  
3 - Essa interdependência entre os diversos motivos que torna a ação social.  

O sentido da ação é produzido pelo indivíduo através dos valores sociais que ele compartilha e do motivo que emprega. Prever todas as consequências da ação escapa ao indivíduo e é papel do cientista, a quem cabe explicar, isto é, captar e interpretar as conexões de sentido inclusas numa ação. 

A conexão entre motivo e ações sociais revela as diversas instâncias da ação social: política, econômica ou religiosa. As ações variam em grau de racionalidade: à medida que se afastam dos costumes e afetos elas são mais racionais.        

  
Max Weber elaborou um quadro de tipos “puros” de ação social:  
Ação Racional Instrumental (com relação a fins): Para atingir um objetivo previamente definido, lança-se mão de meios necessários ou adequados, ambos combinados e avaliados tão claramente quanto possível de seu próprio ponto de vista. É uma ação evidente, chegar ao objetivo pretendido recorrendo aos meios disponíveis. Uma ação econômica, por exemplo, expressa essa tendência e permite uma interpretação racional. Erros e afetos desviam o curso da racionalidade.  

Ação Racional com relação a Valores: Ação que visa um objetivo, mas agindo de acordo com ou a serviço de suas próprias convicções, levando em conta somente a fidelidade a certos valores que inspiram sua conduta. O sentido da ação não está no resultado ou nas consequências, mas na própria conduta. Por exemplo, não se alimentar de carne, orientado por valores éticos, religiosos, políticos e ambientais.  

Ação Irracional Afetiva: A ação é inspirada em suas emoções imediatas sem considerar os meios ou os fins a atingir. Quando a ação é orientada por suas emoções imediatas, como por exemplo, o ciúme, a raiva ou por diversas outras paixões. Esse tipo de ação pode ter resultados não pretendidos, por exemplo, magoar a quem se ama.  

Ação Tradicional: Baseia-se nos hábitos e costumes. Determinadas ações sociais se manifestam com mais frequência que outras, permitindo ao cientista perceber tendências gerais que levam os indivíduos, em dada sociedade, a agir de determinado modo. Interpretar a ação social é observar suas regularidades expressas nos usos, costumes e situações de interesse. Tal é o caso do batismo dos filhos realizado por pais pouco comprometidos com a religião.  

RELAÇÃO SOCIAL 
Ação é diferente de relação social, pois nesta o sentido precisa ser compartilhado. 
Um exemplo de relação social: Sala de aula – estabelece uma relação social onde o objetivo é compartilhado por todos os envolvidos. Relação social é então uma ação social cujo sentido é compartilhado pelas pessoas envolvidas na ação. É a conduta de várias pessoas orientada, dotada de conteúdos significativos, que descansam na probabilidade de que se agirá socialmente de certo modo. Ao envolver-se em uma relação, tem-se por referência certas expectativas da conduta do(s) outro(s). As Relações sociais estão inseridas em e reguladas por expectativas recíprocas quanto ao seu significado, são ações que incluam uma mútua referência. Weber chega à conclusão de que não existe oposição entre indivíduo e sociedade, pois quanto mais racional uma relação mais facilmente ela se traduz em normas e uma norma para se tornar concreta, primeiro se manifesta nos indivíduos como motivação.  

TIPO IDEAL 
Max Weber é um estudioso do próprio processo de pesquisa social, ele observa que ao se estudar um determinado fenômeno, o objeto de estudo, aborda-se apenas um fragmento finito da realidade. O cientista deve compreender uma individualidade sociocultural formada de componentes historicamente agrupados, nem sempre quantificáveis, a partir da análise histórica para explicar o presente e então partir deste para avaliar as perspectivas futuras. 

O que dará a validez científica a uma pesquisa é o método e os conceitos que o estudioso utiliza. Assim, é o instrumento que orienta o cientista social em sua busca de conexões causais, no caso de Weber, o TIPO IDEAL. O tipo ideal é um trabalho teórico indutivo com o objetivo de sintetizar o que é essencial na diversidade social. Permite conceituar fenômenos e formações sociais e identificar e comparar na realidade observada suas manifestações. Os diversos exemplos mantem com o tipo ideal grande semelhança e afinidade. Ele permite comparações e a percepção de semelhanças e diferenças. 

Ele é então um instrumento de análise, um modelo acentuado do que é característico ou fundante no estudo. É uma construção teórica abstrata utilizada pelo cientista ao longo do seu processo de pesquisa.   


A TAREFA DO CIENTISTA: O cientista, como todo indivíduo em ação, age guiado por seus motivos, sua cultura e suas tradições. Isto indica que o cientista parte de sua subjetividade para realizar uma pesquisa social. Como então conciliar a parcialidade, necessária à pesquisa, e a subjetividade? 

As preocupações do cientista orientam a seleção e a relação entre os elementos da realidade a ser analisada. Ao iniciar o estudo vem a busca da objetividade, a neutralidade é buscada para dificultar a defesa das crenças e das ideias pessoais e assim poder analisar o objeto de estudo a partir dos nexos causais que ele apresenta e não daquilo que o estudioso queira encontrar. Cabe ao cientista compreender, buscar os nexos causais que deem o sentido da ação social, isto é, compreender que os acontecimentos começam nos indivíduos. Ao fazer isso, o pesquisador contribui para o conhecimento não do todo social, mas de uma parte dele, pois uma teoria é sempre uma explicação parcial da realidade. Assim, um acontecimento pode ter diversas causas: econômicas, políticas, religiosas e cada uma compõe um conjunto de aspectos da realidade que se manifesta nos atos dos indivíduos. 

O que garante a cientificidade de uma explicação é o método de reflexão e os conceitos escolhidos para guiar a pesquisa, não a objetividade pura dos fatos. Sendo assim, a análise social envolve sempre qualidade, interpretação, subjetividade e compreensão.            

   
A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO 
Esse é o título de uma das principais obras de Max Weber, talvez tenha sido aquela que mais que trouxe fama e prestígio. Nela o autor buscava compreender a relação entre o protestantismo e um comportamento típico do capitalismo. Weber foi motivado pela análise de dados estatísticos que evidenciaram a grande participação de protestantes entre os homens de negócio, entre os empregados bem-sucedidos e como mão-de-obra qualificada. A partir daí procurou observar a conexão entre a doutrina e a pregação protestante e seus efeitos no comportamento dos indivíduos. 

A doutrina e as pregações mostraram a presença de valores protestantes tais como: Disciplina, poupança, austeridade, vocação, dever e propensão ao trabalho. Tais valores formaram a partir da Reforma Protestante, no século XVI, uma nova mentalidade, um ethos propício ao desenvolvimento do capitalismo.  

A ação individual de cada protestante, com o motivo relacionado a valores vai além de sua intenção: Virtude e vocação; Renúncia aos prazeres materiais. Sofre impacto diretamente no meio social ao contribuir com as bases que promoveram o desenvolvimento capitalista. Como cientista, Weber procurou estabelecer as conexões entre os motivos e os efeitos da ação no meio social. Percebeu que o Protestantismo possuía afinidade com o racionalismo econômico, enquanto o catolicismo difundia o ascetismo contemplativo, isto é, um conjunto de valores mais para a meditação do que para a ação prática.  

Esse e outros trabalhos de Max Weber situam-se na área da Sociologia da Religião e seu esforço intelectual consistiu em observar na esfera religiosa um conjunto de valores que conduziram à racionalização das condutas dos fiéis. Fenômeno fundamental para a transformação das práticas econômicas e para a constituição da estrutura das sociedades modernas.  

Weber entende que cada religião constitui uma individualidade histórica, rica e complexa. Por isso seu objetivo era compreender as consequências práticas da religiosidade para a conduta social e ao persegui-lo, notou que a religião pode fomentar o racionalismo prático e intensificar a racionalidade metódica, sistemática, do modo exterior de levar a vida.  


TIPOS DE DOMINAÇÃO 
A partir da tipologia das ações sociais Weber formulou sua análise sobre os tipos de dominação  

Conceito de Dominação: a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo.  Esse conceito de dominação implica em dominantes (a presença efetiva de alguém mandando) e dominados (vinculado à existência de um quadro administrativo ou de uma associação, onde os seus membros estão submetidos a relações de dominação). Nesse sentido o conceito de poder encontra-se relacionado a probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo encontrando resistências.  

Tipos de dominação: 
Dominação legal - em virtude de estatuto, de uma regulamentação ou de normas. Ex: autoridade dos governantes, presidentes diretores e chefes nas organizações empresariais. Dentre as diversas formas que a dominação legal pode assumir seu tipo mais puro é a dominação burocrática. Dominação burocrática: aquele que emprega um quadro administrativo burocrático. Sua ideia básica é que qualquer direito pode ser criado e modificado mediante um estatuto sancionado corretamente quanto à forma.  Obs.: Nesse tipo de organização burocrática obedece-se não à pessoa, mas a regra instituída, que estabelece, tanto a quem se obedece, como em que medida obedecer. O dever de obediência está graduado hierarquicamente através de cargos, havendo subordinação dos inferiores aos superiores, dispondo de um direito de queixa regulamentado. A base de seu funcionamento é a disciplina do serviço.  

Dominação carismática - em virtude da devoção efetiva à pessoa do senhor e a seus dotes sobrenaturais (carisma) e, particularmente a faculdades mágicas, revelações ou heroísmo, poder intelectual ou de oratória. Ex: profetas, herói guerreiro e grande demagogo, Padre Cícero, Antônio Conselheiro, Getúlio Vargas. 

Dominação tradicional - em virtude da crença na santidade das ordenações e dos poderes senhoriais de há muito existentes. Ex: senhor feudal, senhor de engenho (Brasil), autoridade dos pais sobre os filhos.  

Obs. As relações de dominação são determinadas por diferentes motivações que determinam a vontade ainda que mínima de  obedecer, as motivações podem ser puramente materiais e racionais, afetivos e racionais referentes a valores ou determinados pelo costume e tradição essas motivações estão estreitamente ligados a tipologia de ações sociais. 


VISÃO GERAL: MAX WEBER 
Weber mostrou a fecundidade da análise histórica e da compreensão qualitativa dos processos históricos e sociais e apontou a especificidade das ciências humanas: o homem como um ser diferente das demais espécies e então sujeito a leis de ação e comportamentos próprios. Defendeu o indeterminismo histórico, isto é, reafirmando a não existência de leis preexistentes que regulem o desenvolvimento da sociedade ou a sucessão de tipos de organização social. Contribuiu para a consolidação da Sociologia como ciência ao compor o método compreensivo e discutir a relação entre subjetividade e objetividade do trabalho de pesquisa, posicionando-o como um dos clássicos da Sociologia e um de seus mais proeminentes representantes.   

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